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Alanis Morissette, supera produção burocrática no grito, na garra e no bom humor, em São Paulo

16 de novembro de 2023

Foto: Divulgação/Live Nation/Iris Alves

O show de Alanis Morissette no Allianz Parque, em São Paulo, na noite desta terça-feira, começou com um longo vídeo introdutório traçando o impacto cultural de Jagged Little Pill, disco mais emblemático da carreira da canadense, que comemora 28 anos em 2023. Entre aparições em cerimônias de premiação e talk shows, a vinheta não deixou de fora os esquetes de lives zombando da cantora e de hits como “Ironic” e “You Oughta Know”, as manchetes maliciosas da imprensa, as infinitas paródias e as suas aparições no filme Dogma, de Kevin Smith.

Acompanhada de uma banda de cinco instrumentistas competentes, mas terminalmente desengajados da energia das canções que estão tocando, cercada por shows de luzes previsíveis e telões preenchidos por encenações melodramáticas, sobra para a própria cantora ditar o clima do espetáculo e reestabelecer o valor artístico de suas composições.

Sem vergonha nenhuma de mostrar que envelheceu e mudou quase inteiramente em relação à jovem de 21 anos que lançou o disco que mudou sua vida, Alanis mistura aquele gingado de titia rock n’roll (calças de couro, sobretudo preto de paetê, cabelos longuíssimos ao vento enquanto manda a ver em uma guitarra espelhada).

A cantora tem uma presença de palco incrível, nunca fica parada e faz a plateia se animar cada vez mais.

A voz é outro ponto importantíssimo. Embora ela permaneça sendo um instrumento excepcional, a potência consistente que se ouve em gravações de décadas passadas não está mais lá, atingir notas fortes ainda é possível, principalmente com a preparação certa e o vibrato nunca deixa de impressionar, mas para as possibilidades da Alanis de hoje a entrega emocional importa muito mais do que a constância.

Enfim, no centro de performance que poderia ser cínica, Alanis nos ganha justamente por se entregar inteira, com bom-humor, contraditória, sincera, como já tem feito incansavelmente há boas décadas.

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